quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Editorial -Carnaval tipo exportação

Jornal Cruzeiro do Sul


Diante da falta de apoio do poder público para a realização de desfiles carnavalescos em Sorocaba, não restou outra saída para as escolas de samba locais senão desfilar em municípios vizinhos. Afinal, os vários meses de ensaios e preparos das fantasias não poderiam ser desperdiçados, muito menos a animação das comunidades em que estão inseridas.

Cinco escolas de samba aceitaram o convite feito pelo município vizinho e decidiram participar do Carnaval de rua de Votorantim. Desfilaram na avenida 31 de Março as escolas Estrela da Vila, Unidos da Zona Norte, Furiosa Real, Gaviões da Fiel e Planeta Negro. Ao contrário da Prefeitura de Sorocaba, que optou por não realizar o Carnaval de rua, a de Votorantim promoveu um evento gratuito, aberto a quem quisesse participar. A apresentação, sem caráter competitivo, foi organizada pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. Assim como muitos municípios, Votorantim também vem sofrendo com a queda de arrecadação provocada pela situação econômica adversa dos últimos meses. Mesmo assim, preparou uma estrutura modesta, mais simples do que a de anos anteriores, para oferecer o espetáculo aos moradores. Para evitar gastos, a avenida foi isolada com gradis e foi feita uma adaptação para a iluminação, com material já disponível na Prefeitura. O sistema de som também foi improvisado. Em vez de fazer a sonorização em toda a avenida, desta vez foi utilizado um carro de som que acompanhou as baterias das escolas.

A atitude da Prefeitura de Votorantim mostra que, mesmo sem recursos mas com boa vontade, é possível prestigiar a festa popular. A segurança foi realizada pela Polícia Militar com o reforço da Guarda Civil Municipal e os foliões tiveram à disposição banheiros químicos colocados na Praça de Eventos, onde a Comissão Municipal de Assistência Social (Comas) também montou diversas barracas para a venda de comida e bebida, conseguindo com isso arrecadar recursos para as obras sociais. Desfilaram pela avenida 31 de março, na condição de anfitriões, a Unidos da Vila e o Bloco Unidos do Copo Cheio.

A tradicional escola de samba sorocabana 28 de Setembro participou do Carnaval de rua de Araçoiaba da Serra, outra cidade da região que tem atraído bom público.

Sem escolas de samba na rua, o sorocabano teve que se contentar em assistir ou participar dos desfiles dos blocos. Os dois maiores blocos carnavalescos da cidade, entretanto, que reuniam milhares de pessoas no domingo de Carnaval, o Cocó e o Boca a Boca, desistiram do desfile nos últimos anos diante das exigências que lhes foram apresentadas, principalmente na área da segurança. Por reunirem menos pessoas em áreas mais específicas da cidade, conseguiram desfilar este ano o tradicional Bloco Depois a Gente se Vira, que como faz há 30 anos abriu as festividades na sexta-feira e o Bloco Quilombinho, que tornou a tarde de sábado mais animada nas ruas da Vila Leão.

Tanto Votorantim como Araçoiaba da Serra, que receberam escolas de samba e blocos de Sorocaba, também foram prestigiados pelos sorocabanos e visitantes de outras cidades que se deslocaram para essas localidades em busca de diversão.

Não se defende aqui, como já foi dito neste mesmo espaço, que a Prefeitura de Sorocaba, às voltas com problemas de caixa, direcione recursos de áreas prioritárias para o Carnaval de rua. Questiona-se apenas e tão somente a falta de criatividade, boa vontade e até certa dose de improviso para a realização do Carnaval. Votorantim praticamente não gastou nada e ainda conseguiu ganhar dinheiro para a Comas, que explorou barracas de comidas e bebidas.

O mais curioso é que ao mesmo tempo em que não ofereceu qualquer tipo de apoio para escolas de samba e blocos, a Prefeitura, por meio da Secretaria de Cultura, reiteradamente divulga convites pela imprensa convocando a população para a elaboração do Plano Municipal de Cultura, montando inclusive uma estrutura para ir aos bairros discutir as tais prioridades. O contrassenso é gritante, pois as comunidades organizadas espontaneamente em torno da maior manifestação cultural do nosso povo, o Carnaval, bateram às portas do poder público e não foram atendidas.

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