sexta-feira, 24 de abril de 2015

Benefícios da aquaponia são redescobertos

Jornal Cruzeiro do Sul
Telma Silvério

Curso em Votorantim ensinou como unir a produção de peixes com vegetal ao cultivo de plantas


Instrutor Manuel dos Santos Pires Braz Filho - Luiz Setti




Técnica milenar bastante utilizada pelos índios sul-americanos, incas e maias, a aquaponia e seus benefícios foram redescobertos e começam a ser difundidos, inclusive no Brasil, por meio de parcerias entre sindicatos rurais e Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). O instrutor Manuel dos Santos Pires Braz Filho revela que na atualidade a técnica é uma das melhores opções de produção do planeta. Trata-se de um consórcio de produções de peixes com vegetal (ervas, temperos, verduras, forrageiras, entre outras). Os dejetos dos animais transformados em sais orgânicos e inorgânicos pela ação de bactérias e outros micro-organismos são absorvidos pelas plantas, de forma a promover a limpeza da água e possibilitar seu reúso na criação de peixes.
Recentemente, por meio de parceria com o Sindicato Rural de Sorocaba, Manuel Braz esteve em Votorantim, na Estância Sankara, onde, pela primeira vez, ministrou o curso gratuito: Aquaponia em tanque escavado. Limitada a vinte pessoas, a aula oferecida em três dias - 8 horas/aula - teve lista de espera. Isso aconteceu em várias outras cidades. A maioria dos participantes da região são produtores rurais. Quando criou no Facebook a página Aquaponia Aquicultura conseguiu cerca de cinco mil seguidores em um ano. Ele atribui o grande interesse, inclusive por estrangeiros, aos benefícios do sistema que vão além do ganho ambiental e do baixo custo para implantar.

Adaptação no quintal

Braz Filho explica que a técnica é adotada na América do Norte, Sudeste Asiático, Austrália e na Europa. Em algumas regiões o sistema tem como foco a produção de forragens - equivale à alfafa - para alimentar gados, revela. A planta mais utilizada para a forragem é a lêmina (aquática), que convive harmoniosamente com os peixes. "Acaba com a história de pasto. Uma verdadeira revolução na pecuária", destaca o instrutor.

No Brasil, a aquaponia começou a ser difundida há apenas dois anos.

Bem diferente da hidroponia, em que são utilizados resíduos para adubar as plantas, a aquicultura é considerada extremamente sustentável. Isso porque toda a nutrição da planta vem dos dejetos dos peixes. Ao mesmo tempo em que alimenta as plantas limpa a água para a sobrevivência dos peixes, que são alimentados com ração. "Além de ficar 70% mais barato que a hidroponia existe o ganho ambiental e o sabor diferenciado dos alimentos com textura bem mais macia, pois são produzidos na água", compara.

O curso propõe difundir a técnica para a geração de renda como opção para aumentar a rentabilidade, no entanto, o que mais chama a atenção dos participantes é a possibilidade de adaptar o sistema no próprio quintal de casa, disse. Numa área de 1,5 metro por 4,5 metros, instrutor e alunos colocaram a técnica em prática. Foram necessárias seis barras de PVC de 75 milímetros cada, cavaletes feitos com seis metros sarrafo, um tambor de 60 litros, uma caixa d"água de mil litros, um compressor de ar e bombas d"água. As duas bombas são de 20 quilowatt-hora (kWh) cada que representa consumo de R$ 0,40/mês. Ele calcula um gasto total de aproximadamente R$ 600,00.

A planta escolhida demonstração e produção na estância Sankara foi a alface, e a espécie de peixe foi a tilápia. "Ideal por ser mais tolerante à água fria." Ele lembra da estação em que estamos, o outono. O tanque de mil litros recebeu 80 tilápias que, em cinco a seis meses estarão com peso para abate. Braz Filho calcula a produção de 45 quilos de peixe a cada cinco meses e em torno de 60 pés/mês de alface. Se a intenção é adotar uma dieta saudável, a aquaponia é uma alternativa que permite a pessoa conhecer o alimento que se consome, observa.

Sustentabilidade e rentabilidade

Além de ser prática a técnica é uma excelente alternativa para aumentar a rentabilidade, ressalta Maria Aparecida Ribeiro, proprietária da Estância Sankara. Acostumada a acompanhar os cursos sediados em sua propriedade, ela confessa não ter tempo de mexer na terra para a produção de verduras. "Aqui é mais voltado à criação de animais e temos um tanque com peixes." O zootecnista Marcelo de Moraes Borges trouxe sua esposa, a educadora Vera Lúcia Castanho Borges, para a primeira aula e se disse maravilhado com o sistema que considerou sustentável e inteligente. "Leio muito e não conhecia. E como apaixonados que somos pela natureza achei ótimo."

Vera Lúcia adianta que pretende adaptar em sua propriedade. Também deve utilizar o sistema para conscientizar e incentivar a sustentabilidade. Ela explica que há 16 anos dedica-se à educação ambiental. Aos 92 anos de idade, a aposentada Antonia Belo é outra pessoa encantada com a aquaponia. Ela costuma participar de cursos e colocar em prática o que aprende, mas desta vez, segundo sua filha, Maria Edna Lauders, deve repassar o conhecimento adquirido ao filho que mora na Paraíba. "Ele mora numa chácara lá. É fácil, prático, barato e tem bom retorno", justifica ela.



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