quarta-feira, 4 de março de 2015

Quebra de confiança

Jornal Cruzeiro do Sul


Atribuir a deficiência na prestação desse serviço essencial ao fim de contratos temporários é injustificável


O atraso na entrega de correspondências em Sorocaba chegou a um patamar insustentável. Se até há alguns meses as reclamações eram pontuais, desde o final do ano passado a coisa desandou: praticamente todas as regiões da cidade têm alguma queixa com relação ao serviço dos Correios. A população está recebendo boletos bancários e contas após o vencimento e até a distribuição dos carnês do IPTU, que já foram entregues aos Correios, corre o risco de não chegar a tempo aos sorocabanos antes dos prazos em que é possível pagar com desconto. Por conta dos atrasos semelhantes, a Prefeitura de Votorantim prorrogou a data de vencimento do imposto. De 27 de fevereiro, ele passou para 10 de março.

Em várias oportunidades nos últimos dias, a assessoria de imprensa dos Correios tem se manifestado admitindo a existência de "atrasos pontuais em determinados locais de Sorocaba" e que eles devem-se "ao encerramento do contrato de mão de obra temporária que atuava na área operacional dos Correios e à grande quantidade de objetos postados neste período do ano".

Atribuir a deficiência na prestação desse serviço essencial ao fim de contratos temporários é injustificável. Será que ninguém nos Correios ou no Ministério das Comunicações previu que sem pessoal é impossível manter o serviço?

O Sindicato dos Trabalhadores dos Correios atribui o atraso na entrega de correspondências à irresponsabilidade da administração da empresa. O diretor Gilmar Gomes da Silva critica a não abertura de concurso para contratação de novos funcionários, o que não ocorre desde 2011. Ele lembra que a situação piorou com o fim do contrato de temporários e que carteiros têm sido hostilizados nas ruas por conta da situação.

Os Correios, por meio de sua assessoria, informaram no final de fevereiro que está sendo analisada a realização de um novo concurso e que está em andamento o processo de licitação para a contratação de temporários.

Com seu trabalho ineficiente, os Correios perdem uma grande oportunidade de crescimento propiciado pelos meios eletrônicos. Há alguns anos, com a popularização da internet e dos e-mails, chegou-se a pensar que chegaria o dia em que os Correios fechariam suas agências por falta de serviço. Afinal, quem mandaria uma carta se poderia enviar um e-mail com "entrega" imediata e garantida? Ocorre que junto com os e-mails e internet vieram também as lojas virtuais, o e-commerce, o setor do comércio que mais cresce no País, e que poderia representar a redenção da empresa como ponte entre o comércio eletrônico e os consumidores. De acordo com a E-bit, empresa especializada em informações do comércio eletrônico, o setor movimentou R$ 35,8 bilhões em 2014, crescendo, nominalmente, 24% em relação a 2013, quando o faturamento chegou a R$ 28,8 bilhões. Ao todo, foram mais de 51,5 milhões de consumidores únicos, sendo 10,2 milhões de novos entrantes ao longo do ano e mais de 103,4 milhões de pedidos realizados, a um tíquete médio de R$ 347. Para 2015, apesar da retração esperada na economia, a E-bit prevê um crescimento nominal de 20%, atingindo faturamento estimado de R$ 43 bilhões. Fato é que, devido a problemas como os registrados em Sorocaba e Votorantim, para não perder a clientela crescente, muitas dessas empresas estão desenvolvendo meios próprios para entregar suas mercadorias.

A origem dos Correios no Brasil se confunde com a história do País. Surgiu em 1663 com a criação do Correio-Mor no Rio de Janeiro. Em março de 1969, durante o regime militar, foi criada a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT), empresa pública vinculada ao Ministério das Comunicações. Apesar de tudo, os Correios têm uma boa imagem junto à população. A empresa foi eleita no ano passado a segunda instituição de maior confiança dos paulistanos, de acordo com pesquisa do Ibope Inteligência, ficando atrás apenas do Corpo de Bombeiros. É uma pena que um patrimônio como esse seja colocado em risco por conta de erros primários de gestão.

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