domingo, 25 de janeiro de 2015

Paulo Nito é exemplo de superação

Notícia publicada na edição de 25/01/15 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 005 do caderno A
Telma Silvério


Deficiente físico e "órfão" da mãe de criação aos 12 anos, aos 45 ele se prepara para ter sua casa própria



A deficiência não impediu Nito de ganhar o próprio sustento trabalhando em feiras - ADIVAL B. PINTO
Aos 45 anos de idade, Paulo Nito cativa por sua alegria, mas surpreende mesmo pela capacidade de superação. Adotado logo após o nascimento - "a mãe não tinha condições de criá-lo" -, ficou órfão da mãe de criação com 12 anos incompletos, quando, então, passou a viver em instituições governamentais, inclusive hospitais psiquiátricos. Há dez anos mora numa das residências terapêuticas da Rede de Assistência em Saúde Mental "Jardim das Acácias", onde aprendeu a não depender de ninguém. Nito é tão independente que trabalha em feiras e, em breve, vai mudar para uma casa que alugou, no Jardim Novo Mundo, em Votorantim. De lá, sai definitivamente do aluguel para seu próprio imóvel, um dos apartamentos em construção pelo programa Minha Casa, Minha Vida, no Jardim Jacarandá, em Sorocaba.

De instituição em instituição

Paulo Nito é natural de Itapeva, que fica a 180 quilômetros de Sorocaba. Foi registrado como Paulo Luiz Teodoro Nito. Por cerca de trinta anos não teve notícias da família. A deficiência física foi constatada quando bebê, no entanto, a mãe de criação cuidou do menino até o fim da vida. "Lembro que a gente ia à igreja e ela segurava a minha mão." Encaminhado à assistente social do município, com 12 anos incompletos, iniciou sua via-sacra por instituições do interior e da capital: Hospital Vera Cruz, em Sorocaba, por cerca de um ano; a extinta Fundação Para o Bem-Estar do Menor (Febem), em São Paulo; uma outra instituição que cuidava de crianças, também na capital; o Sanatorinhos, o hospital psiquiátrico conhecido como CDM e, depois, a Febem. Todos os três na cidade de Itu.

A estadia mais longa foi no Jardim das Acácias, hospital que funcionava na avenida General Carneiro, ao lado da delegacia. O cadastro de Nito data do dia 13 de junho de 1984, tendo sido encaminhado pela Febem de Itu. Ele estava com 15 anos de idade. Na época, revela Sandra Mescoki Sarti, que atuou no hospital, não havia informações sobre antecedentes familiares e pessoais de Nito. Ele apresentava sequelas de encefalopatia congênita, com tetraparesia, movimentos distônicos no corpo todo, dificuldade acentuada de comunicação, sem condições para deambulação, utilizando-se de cadeira de rodas para sua mobilidade. Frequentou a Apae e recebeu atendimento fisioterápico externo ao hospital, nos primeiros anos de internação.

Em meados de 1989 começou a frequentar a igreja próxima ao hospital, bem como a fazer passeios curtos pelas imediações, de forma a demonstrar desejo e capacidade de razoável autonomia para mobilidade, contatos sociais e cuidados pessoais. Já, nesta época, seu estado mental dispensava o uso de medicamentos psiquiátricos, revela Sandra. Em 94 passou a frequentar a recém criada Oficina Terapêutica, da Rede Jardim das Acácias, que é voltada para o desenvolvimento e estímulo à vida laborativa, educacional e cultural, tanto dos moradores do hospital quanto de pessoas da comunidade que apresentassem alguma dificuldade nesta área.

Autonomia

Há quinze anos passou a morar numa das oito residências terapêuticas. Em cada imóvel vivem entre 8 e dez pessoas, informa a encarregada das residências, Dircéia Aparecida Greggio. Embora todos tenham sido treinados para desenvolver suas tarefas do dia a dia, de forma a torná-los mais independentes, os imóveis contam com o suporte de profissionais da área da saúde, em especial o que abriga mais idosos, revela. Na época, com intermediação do setor de fisioterapia do hospital, Paulo Nito pleiteava uma cadeira de rodas motorizada, o que se concretizou e veio a ser seu instrumento de autonomia para mover-se livremente não só pelas proximidades da residência, mas por toda a cidade, onde deseja ir.

A nova cadeira tornou possível a venda de produtos comestíveis como sucos, biscoitos e outros que comercializa nas feiras.Também aumentou sua disposição para passeios, visitas e compras. Dircéia explica que Nito sai bastante e resolve pessoalmente as questões bancárias. Através do trabalho do serviço social do hospital, na busca de vínculos perdidos, por volta de 2006, sua família foi localizada e deu-se início a um processo de aproximação com dois irmãos em Votorantim, e a mãe que vive em Itapeva. Paulo passou a frequentar esporadicamente a casa da família, especialmente no período do Natal. As festas de final do ano passado foram em Itapeva, onde permaneceu por alguns dias.

Questionado se guarda mágoa da família por tê-lo "deixado", Paulo Nito afirma que "não". Concentra-se somente no futuro. Convidado para mudar-se para Votorantim, na casa de um dos tios, decidiu aceitar, mas com o desafio de viver sozinho, numa casa próxima à família, no Jardim Novo Mundo. A casa alugada passa por adaptações. O aluguel e os bens de consumo serão custeados por programas como o De Volta pra Casa, do qual é beneficiado.

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