terça-feira, 20 de março de 2012

Público lota pedreira para assistir Focus

Folha de Votorantim
Matheus Casagrande



 Fotos: Marcos Ferreira


Noite de sexta foi uma verdadeira festa da boa música, com apresentações revigorantes das bandas Imagery e Focus
Muitas pessoas tiveram dificuldade de encontrar a tal pedreira abandonada do Jardim Icatu para ver a apresentação da banda Focus na última sexta-feira (16). Nos arredores da avenida São João, era possível ver as pessoas caminhando com passos incertos, como quem procuravam por um local que não conheciam.
“Mas onde fica essa pedreira?”, dizia um em um grupo que, sem saber, estava na direção certa. Outros, mais espertos, seguiam o bando que ia mais a frente, pois seus integrantes caminhavam visivelmente seguros e cientes de onde estavam.
Um carro para. Um dos ocupantes pergunta: “onde vai ter o show de rock?” Não adiantou citar a bica d’água, localizada no mesmo terreno, abaixo da entrada.
No entanto, é possível apostar que tudo valeu a pena para quem se atreveu a ir. Na verdade, a dificuldade em achar a pedreira pode ter sido um aperitivo do que acabou sendo aquela noite. Tento, em vão, me imaginar na condição de quem viu aquele lugar pela primeira vez. Deve ter sido maravilhoso conhecer a pedreira naquela ocasião, em que foi celebrada uma grande festa da música, e o que é melhor, música boa e estimulante.
A minoria que chegou ainda em tempo de ver a Imagery, de Londrina, banda que abriu para o Focus, teve outra boa surpresa. Os paranaenses fizeram um som coeso, encorpado e pesado.
Em pouco tempo, o público já tinha se familiarizado com o local. Ao mesmo tempo que muita gente ainda chegava, outros saíam e circulavam pelo bairro, atrás de cerveja. Mais carros rodavam pela região. Vagas para estacionar, só mesmo a um ou dois quarteirões. O Jardim Icatu tinha outra cara, talvez inédita.
A principal atração da noite apareceu por ali perto das 21h. Enquanto andavam pela lateral da área destinada ao público, Thijs van Leer, Pierre van der Linden, Menno Gootjes e Bobby Jacobs (os dois primeiros da formação original) foram aplaudidos e ovacionados.
Quando o Focus começou a tocar, por volta de 21h30, o local já estava lotado. Antes vazio e destinado apenas à pequena fauna local (composta de aves, insetos e alguns lagartos), ao mato que cresce desordenadamente e a eventuais desovas de lixo e entulho, o grande buraco do Jardim Icatu ficou tomado pelo grande palco e os expectadores.
Na “plateia”, o público era heterogêneo. Muitos coroas, claro, atraídos por aquela que foi uma das bandas que embalou a juventude dos anos hippies, ao lado dos jovens rock n’ roll de hoje. Em alguns casos, famílias inteiras, com pai, mãe e filhos. É difícil prever se alguém dos mais novos conhecia pelo menos o nome da banda, mas não causaria surpresa se o Focus já estivesse no mp3 player de uma porção deles. Na verdade, isso foi o menos importante: todo o público curtiu o som de corpo, mente e alma abertos.

O show
Uma banda de rock progressivo comemorando 40 anos de lançamento de seu principal álbum, “Moving Waves”. Essas informações bastam para deixar qualquer um receoso de encarar um show “viajado” demais. Quem foi à pedreira abandonada do Jardim Icatu com essa ideia na cabeça teve mais uma bela surpresa.
O som poderoso do Focus é capaz de transportar mentes. Esse potencial só aumentou naquele local, um verdadeiro buraco em meio à cidade, com grande capacidade acústica.
“Muito obrigado. Sabe o que vocês fizeram? Fizeram nos sentir em casa”, disse o organista e flautista (e algumas vezes vocalista) Thijs van Leer, que completa 64 anos de idade no próximo dia 31, antes de tocar a última música de uma noite que acabou muito cedo, apesar do horário.

Um novo local
Abandonado há décadas, depois de servir para a extração de calcário, a pedreira abandonada do Jardim Icatu passou a chamar a atenção da sociedade – especialmente do governo municipal – a partir de novembro de 2011, quando o Coletivo O¹² apresentou, com realização do Sesc Sorocaba e parceria da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, o “Dança na Pedreira”, uma programação cultural de dois dias (24 e 26 de novembro) composta por apresentações artísticas, debates e workshops.
Grupo de dança contemporânea votorantinense, o Coletivo O¹² escolheu a pedreira abandonada para seu evento a partir de noções de economia criativa, área a que o grupo se dedica a estudar e praticar e que tem como um dos motes justamente dar nova utilidade àquilo que aparenta não ter valor. Essa grande reflexão política, aliada à inspiração de artista, foi capaz de convencer o Sesc Sorocaba a abraçar a ideia e ali realizar o “Dança na Pedreira”.
Semanas depois, o O¹² promoveu um piquenique comunitário no local, no domingo do dia 18 de dezembro. O objetivo do grupo com essas ações era justamente chamar as atenções da sociedade para o local, tão fértil quando abandonado.

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